Quem somos
O Desterro – Observatório de Violência em Florianópolis é um jornal periférico, que nasce da união das comunidades da capital de Santa Catarina, com foco em denunciar violações de direitos, como a violência policial, o descaso de órgãos públicos e o constante apagamento da cidadania de pessoas negras e pobres na cidade.
Unindo as perspectivas do jornalismo investigativo e a potência da organização comunitária, produzimos materiais plurais em diferentes formatos e sob diferentes perspectivas que buscam contribuir com a formação política das nossas localidades. O Desterro busca ser um caminho para o fortalecimento das comunidades, por meio do trabalho inserido nos locais e construído em conjunto aos territórios.
Nossa história
Nas brechas entre as fachadas dos prédios, existe uma outra Florianópolis. Preta. Pobre. Que sobe ladeira acima. São dezenas de comunidades que lidam diariamente com a violência da polícia e o descaso dos órgãos públicos.
O Desterro surge diante um histórico de truculência policial que vem se intensificando nas periferias da cidade, ceifando a vida da juventude e invisibilizando o luto e a luta de suas famílias – em sua maioria, pessoas negras. Apesar de apenas 22% da população de Florianópolis se autodeclarar negra – conforme dados da PNAD 2022 –, quase 40% das pessoas que morreram em decorrência de operações militares em Florianópolis nos últimos oito anos são homens negros.
Atuamos em rede, contando com o apoio de oito organizações parceiras, além de agentes com participação direta nos morros de Floripa: educadores, líderes comunitários e advogados voluntários que têm atuado, produzido e formado nestes espaços marginalizados, em parceria com a sua população.
A política de produção de morte e apagamento que atinge pessoas periféricas diariamente na capital catarinense segue operando no silêncio – se embasando em uma cultura de branquitude que invisibiliza a presença da população negra e pobre na cidade, e impede que a reivindicação de direitos por parte dessa população seja vista como, de fato, um problema público.
O Desterro surge para romper com este silêncio. Temos como objetivo produzir dados sobre Segurança Pública sob uma perspectiva racializada na capital mais branca do Brasil. Tendo como base o jornalismo investigativo e comunitário, nos propomos a realizar uma cobertura inédita em Floripa: Quem morre? Onde? Como? E por que? A sociedade precisa saber. A gente veio para contar.
Nossa equipe
Gabriele Oliveira
Co-fundadora do Desterro. Jornalista com experiência em produção de reportagens e projetos na defesa de direitos. Possui trabalhos publicados no Portal Catarinas, Ponte Jornalismo, Portal Geledés – Instituto da Mulher Negra, Universa UOL e Globo Esporte. Atua como assistente de projetos na Coalizão Negra por Direitos, maior entidade do movimento negro no Brasil. Moradora do Maciço do Morro da Cruz, atua na cobertura de direitos humanos há quatro anos, denunciando a invisibilidade dos jovens negros mortos na utópica ‘Ilha da Magia’, assim como o constante apagamento da população negra da cidade.
Rodrigo Barbosa
Co-fundador do Desterro. Jornalista e fotógrafo que atua cobrindo violação de direitos a comunidades faveladas e indígenas de Santa Catarina. Tem cinco anos de experiência na cobertura de violência policial no Maciço do Morro da Cruz para o portal Cotidiano UFSC. Possui trabalhos publicados em portais como o Catarinas e Ponte Jornalismo; e premiações no 39º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo (OAB/RS) e na Associação Catarinense de Imprensa. Realiza trabalho direto com a juventude dos morros, tendo conduzido uma série de oficinas – sobretudo de fotografia – nas comunidades onde atua ao longo dos últimos anos.
Bruno Ruthe
Designer gráfico e profissional criativo, formado no Centro Universitário de Brasília (CEUB), com expertise na criação de identidades visuais e branding – atua na construção da marca do Desterro. Já participou do projeto da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apoiado pela UNESCO e intitulado Nelson Neto, o Nenê, que é uma iniciativa que ajuda na preservação da primeira infância. Além de causas sociais, seu trabalho abrange áreas artísticas como o uso e estudo de colagens e processos de impressão como a cianotipia.
Katharine Trajano
Produtora cultural com experiência em captação de recursos, fortalece o Desterro na busca por editais. Graduada e mestre em história, é doutoranda no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGICH/UFSC). É bolsista Capes e pesquisadora no Laboratório de Estudos em Gênero e História (LEGH/UFSC). Estuda gênero e sexualidade, relações étnico-raciais, decolonialidade, internet, história social e produções culturais.
Conselho Comunitário
Moisés Nascimento
Liderança comunitária do Morro do Mocotó e co-fundador da Frente da Juventude Voz das Favelas, movimento social que atua pela garantia de direitos dos jovens da periferia de Florianópolis. Formado na primeira turma de Defensores Populares pela Defensoria Pública de Santa Catarina, em 2022, possui articulação com várias lideranças comunitárias e movimentos sociais negros da Grande Florianópolis. Já representou sua comunidade em instituições como a Assembleia Legislativa de SC e a Câmara de Vereadores de Florianópolis; também realizou diversos eventos de conscientização desde a criação da Frente. Barbeiro de formação, atualmente concilia a militância com o trabalho de modelo, sendo o primeiro negro a ser eleito Mister Santa Catarina.
Cintia Cruz
Líder comunitária na comunidade de Chico Mendes. Ativista social e educadora popular, se destaca pela liderança em projetos comunitários voltados à educação, igualdade racial e empoderamento feminino, sempre buscando soluções para questões como violência, falta de acesso à saúde e educação de qualidade. É presidente da Associação Revolução dos Baldinhos e também idealizadora do projeto Cozinha Mãe, onde oferece atendimento social e formação.
Danilo Novais
Nascido e criado no Morro do Horácio, é líder comunitário no Maciço do Morro da Cruz, conjunto de 20 favelas na região central de Florianópolis. Atua há 13 anos na Associação Comunitária do Morro do Horácio.
Conselho Editorial
Samuel Pantoja Lima
Jornalista, é professor do curso de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC (PPGJOR). É pesquisador do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS/UFSC) e ocupou, entre os anos de 2021 e 2023, a presidência da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR).
Flávia Medeiros
Cientista Social e doutora em Antropologia. Professora do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da UFSC. Pesquisa e coordena projetos sobre segurança pública, direitos humanos, violência estatal, burocracias e investigação de mortes. É integrante do da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas e da Rede Transnacional de Pesquisas sobre Maternidades Destituídas, Violadas e Violentadas e do INCT-InEAC. É coordenadora da Lupa – Laboratório Universitário de Política, Direitos, Conflitos e Antropologia e coordenadora do Projeto Ebó Epistêmico. Em novembro de 2023, foi condecorada com a Medalha Cruz e Sousa pela Câmara Municipal de Florianópolis, que homenageia pessoas com contribuição relevante para a luta antirracista e da população negra em Santa Catarina.
Stefanie Carlan da Silveira
Jornalista, professora do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora do projeto e portal Cotidiano UFSC. Doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo (PPGCOM/USP), sua atuação profissional inclui passagens pela Folha de São Paulo, Editora Abril, Agência de Notícias EFE e jornal Zero Hora. É pesquisadora de mídias digitais do grupo COM+ na USP e do Nephi-Jor na UFSC.
Amanda Rahra
Jornalista especialista em jornalismo local e diversidade. É co-fundadora da Énois e hoje atua na área de cuidado e gestão de pessoas e projetos da organização. Se formou jornalista (UFSC) e gestora da comunicação (USP), é mãe da Tereza e gosta de sistematizar experiências de desenvolvimento de equipe para a construção de um jornalismo mais diverso, inclusivo, representativo e local. Também atua na captação de parcerias e dinheiros. Faz parte do Aura Fellowship, um programa de apoio internacional para mulheres ativistas.
Parceiros
Instituto Padre Vilson Groh, maior rede de ONGs de Florianópolis, com atuação direta em 8 comunidades periféricas da região metropolitana da capital catarinense. O instituto atua fortalecendo organizações da sociedade civil voltadas à defesa e garantia de direitos, desenvolvendo ações e projetos em rede que contribuam na trajetória de vida de crianças, adolescentes e jovens em territórios empobrecidos.
Frente da Juventude Voz das Favelas, é um movimento social de base que milita contra a violência de Estado. O coletivo surgiu no Morro do Mocotó, comunidade que integra o Maciço do Morro da Cruz, e luta por melhorias sociais e garantia de direitos nas periferias da região central da cidade.
Associação de Moradores do Morro do Horácio, coletivo de moradores de uma das maiores comunidades que integram o Maciço do Morro da Cruz. É uma sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua diariamente na luta por direitos humanos e melhorias na comunidade.
Revolução dos Baldinhos, movimento de base que atua desde 2008 com agricultura urbana e gestão de resíduos no Monte Cristo. Trabalham temáticas como soberania alimentar, economia circular e políticas públicas através da Cozinha Mãe, núcleo da Revolução.
Jornalismo e Ação e Comunitária (JAC), projeto de extensão vinculado ao curso de Jornalismo da UFSC, atua na promoção de atividades de educomunicação em comunidades vulnerabilizadas de Florianópolis
Énois, laboratório que trabalha para impulsionar diversidade, representatividade e inclusão no jornalismo brasileiro. Fundada em 2009, é a primeira escola online de jornalismo no Brasil. Já formou mais de 4.500 estudantes e jovens da periferia. Ao longo do tempo, esses jovens, por meio da Énois, produziram conteúdo em parceria com veículos de abrangência nacional. Foram mais de 80 reportagens produzidas pela agência, publicadas em veículos parceiros, como UOL Tab, The Intercept, The Guardian, Nexo, BBC e outros.
Lupa – O Laboratório Universitário de Políticas, Direitos e Conflitos – LUPA, grupo que reúne atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação sobre instituições (escola, polícia, prisão, hospitais), organizações e movimentos sociais com foco nas relações de poder, conflitos e nos processos de demanda e reconhecimento de direitos desde a perspectiva antropológica. Sediado no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (CFH/UFSC), vinculado ao Programa de Pós – Graduação em Antropologia (PPGAS), o grupo é registrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq e criado no final de 2023.
Editais, formações e prêmios
Google News Initiative Startups Lab 2024
O Desterro foi um dos 15 projetos de todo o Brasil que participaram do Google News Initiative Startups Lab 2024, realizado pelo Google em parceria com a empresa Echos. O programa visa auxiliar iniciativas de jornalismo independente a estruturar, desenvolver e crescer o seu projeto através de prototipagens e do entendimento das demandas de nossa audiência.
Representados por nossos jornalistas fundadores, Gabriele Oliveira e Rodrigo Barbosa, passamos por oito semanas (sendo uma delas na sede do Google em São Paulo) de muito aprendizado, networking e diálogo com nossa audiência, das quais saímos com nosso site, redes sociais e canal de Whatsapp estruturados. Além disso, foi um processo fundamental para que o modelo de negócios do Desterro fosse construído.
Enfrentando o Racismo a partir da Base 2024
O edital “Enfrentando o Racismo a Partir da Base”, realizado pelo Fundo Brasil em parceria com a Warner Music Group/Blavatnik Family Foundation Social Justice Fund (WMG/BFF SJF) e Fundação Ford, apoia o fortalecimento institucional de projetos com atuação direta nos territórios, fomentando atividades pela promoção da justiça racial e defesa de direitos da população negra.
Em 2024, o Desterro foi uma das 25 organizações contempladas no edital, sendo a única em solo catarinense. Para além de garantir um importante investimento para o desenvolvimento e produção de conteúdo do Observatório, nossa proposta contemplava também a realização – em conjunto com nossos parceiros nos territórios – de eventos de formação política e comunicação popular nas comunidades.
Incidência Popular em Segurança Pública
O edital “Incidência Popular em Segurança Pública”, realizado pelo Fundo Brasil em parceria com a Open Society Foundations, apoia iniciativas populares de incidência política que atuam pela promoção de uma segurança pública antirracista, anti-discriminatória e com maior participação social. O objetivo do edital é ampliar o engajamento da população em geral num debate informado sobre segurança, indo além da simples defesa de aumentar o policiamento e o encarceramento.
Com a proposta inédita de produzir dados e matérias sobre Segurança Pública, a partir de uma perspectiva racializada, cidadã e comunitária na capital mais branca do Brasil, o Desterro foi um dos dez projetos contemplados pelo edital, o único de Santa Catarina.
Edital de Fortalecimento de Iniciativas de Organizações da Sociedade Civil para Promoção da Igualdade Racial
Em setembro de 2024, o Desterro foi contemplado por um edital de fomento do Ministério da Igualdade Racial que, em parceria com a Fundação Euclides da Cunha e a Universidade Federal Fluminense (UFF), apoia organizações da sociedade civil que atuam pela promoção da igualdade racial e no combate ao racismo.
Fomos uma das vinte iniciativas selecionadas com o projeto “Floripa Preta!”, série de documentários que através das experiências de diferentes pessoas e territórios de Florianópolis, apresentará a potência da cultura preta e periférica de nossa cidade, bem como o apagamento e a violência sofrida por estes agentes e expressões culturais que se opõe à tradição açoriana da “Ilha da Magia”. A série, atualmente em produção, será lançada em nosso site a partir de abril de 2025.